Infinito Particular

"Eu não sou difícil de ler faça a sua parte, eu sou daqui eu não sou de Marte... Só não se perca ao entrar no meu Infinito Particular..." (Marisa Monte)

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terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre a dor

Algumas vezes a dor é tão grande que a única coisa a qual queremos é que ela cesse e para isso somos capazes de falar e fazer coisas que normalmente não faríamos... Como poucas coisas na vida a lembrança de uma grande dor é quase pior que a própria dor. É como se o tempo voltasse e doesse novamente, mas a dor nos educa exatamente por essa propriedade de “doer novamente”, faz com que não queiramos mais o que nos causa aquela dor e passemos longe do perigo... A dor nos lembra de quem devemos ser embora não tenhamos sido feitos para ela é um artifício para que sejamos melhores. É claro que não falo de maus tratos e torturas ou dores impostas por terceiros, mas aquela dor que de alguma forma buscamos por nossos próprios atos. Aquele sentimento que arranca nossa alma do estado de tranqüilidade por um tempo em resposta ao afastamento do que é o bem.
Ao mesmo tempo a dor nos faz superar nossos limites. Alguns exemplos: A dor da perda de alguém que amamos é algo que parece insuportável no primeiro momento, mas com o tempo ela vai passando e voltamos a nos sentir bem embora haja sempre uma cicatriz que se torna uma lembrança...

Quando pecamos outro tipo de dor se instala, aquele gosto amargo da derrota, de ter optado pelo mal, mas quando voltamos para o bem é como se um balsamo fosse posto em nosso coração e novamente uma cicatriz se instala, só que essa nos mostra o caminho a seguir não voltamos ao erro. Por isso devemos nos perdoar pelas nossas próprias faltas, mas não esquecê-las para que não voltemos ao pecado.

Quando somos injustiçados sentimos o gosto da ira, da revolta, e quando essa injustiça vem de alguém que nos é próximo maior é a dor e essa talvez seja a maior e mais difícil de abrandar... Ela se instala em nosso coração e ali permanece enraizada até que consigamos perdoar aquele que nos causou mal. É isso é bonito demais! Apenas quando conseguimos realmente dar o perdão é que a dor se vai.
Vivemos em uma sociedade que afasta a possibilidade de dor nos anestesiando em coisas fúteis e supérfluas. Causamos dor nos outros, mas não queremos que nos causem dor, preferimos deixar de lado o senso de justiça e moral a termos que aceitar conviver com a dor da injustiça que causamos e da imoralidade em que vivemos. Na modernidade não há lugar para a dor que educa, não há a privação e a renúncia para que aprendamos a ser sóbrios por isso não há espaço para o Cristo. Existiu dor maior do que a que Ele sentiu na cruz? E nem foi por Seus próprios erros, pois Ele não os tinha. Foi pelos nossos.

A cultura do consumismo mascara as frustrações e dores humanas na aquisição de bens materiais. Buscando o que é perene no que é efêmero, querendo cada vez mais ter para suprir a necessidade de ser aquilo que não se consegue por medo da dor que ninguém mais está acostumado a sentir, a sobrepujar.

Enfraquecem cada dia como homens e mulheres escondidos atrás de uma aparente força, mas que não passa de superficialidade e solidão. Dizem que não precisam mais do outro optando por amizades e relacionamentos virtuais, deixam de lado a famílias dizendo que o matrimônio está “falido” em prol de uma liberdade que leva apenas a consultórios de psicologia, farmácias. Gastando toda a felicidade e liberdade comprada com o suor de varias horas de trabalho em shoppings (atuais templos de consumo)... Mas não sentem dor! Não têm tempo para isso! Esses não amam! Compram o sentimento e carinho de alguém com o que materialmente temos para oferecer como se compra qualquer outra mercadoria, exigindo algo em troca!

A dor é para os que têm família e gastam seu tempo para cuidar de filhos. Os que se preocupam com o próximo, com aquele que tem fome e sede. A dor para esse grupo cada vez menor de pessoas que não têm medo de senti-la, os que dão a sua vida por alguém ou por uma causa. A dor para esses que amam, pois o amor é uma decisão, uma atitude que passa, necessariamente pela dor. Cuidemos para ser aquele que, como Cristo, sente dor e por isso ama e não o que “não sofre” vivendo na superficialidade anestésica do consumismo.