Infinito Particular

"Eu não sou difícil de ler faça a sua parte, eu sou daqui eu não sou de Marte... Só não se perca ao entrar no meu Infinito Particular..." (Marisa Monte)

Páginas

Seguidores

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A loucura que salva

- Você me acertou! Disse o homem que sofria com um coração muito ferido e fechado por grossas faixas que impediam que qualquer terapia funcionasse.

- Como fico agora? Estava certo de como deveria proceder... Do que deveria fazer... Agora isso! Continuou o homem a falar, um pouco desnorteado por tudo o que acontecera nesses últimos dias. Seus coração a partir do carinho e amor sem igual demonstrados começara a curar-se.

Desconfiada, toda a comunidade, que não conhecia o grau de enfermidade do homem, não acreditava naquela conduta que parecia afundar ainda mais o homem em seus males.

- O que é isso? (Falou um desconhecedor) Desta maneira? Que loucura? Isso só irá fazer esse coração se partir, putreficar e ir embora para sempre!

O anjo que propusera a cura, certo da resposta que a sua terapia iria repercutir no homem, fecha os ouvidos para todos que sabem em parte e somente enxerga a luz que sabe ainda pruduzir aquele coração ferido.

- Recebe isto como sinal do meu amor, do Amor do Pai e da minha felicidade. Disse o anjo sorrindo e acariciando o peito sofrido do homem.

- Obrigado! A dor passou! O dia começa a despontar... É preciso... É preciso... Retrucou o homem com um sorriso no canto da boca.

- Meu amor por ti é INCONDICIONAL, pois não foi criado por mim, mas sim por aquele que tudo cria... Disse o anjo ternamente.

- Meu coração bate! Fui acertado por sua flecha! Não pensava em sentir isso... Obrigado meu lindo anjo, por fazer das cinzas de meu coração uma nova fênix que renasce para a aurora do que deve ser feito. Suspirou o homem.

O anjo apenas orou pelo homem e sorriu.

Por Léo Fernandes.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O campo de Trigo

O dia amanheceu claro e límpido, ainda era possível ver resquícios da noite que terminara nas últimas estrelas que se despediam da lua que insistia em cumprimentar o Sol antes de partir. O que àquela época do ano era normal não parecia normal. O Sol parece mais brilhante, o céu mais azul... O dia perfeito! Se acreditasse em destino, diria que este dia mudaria o curso de sua vida, podia pressenti-lo no ar, no balanço dos ramos dos trigais que cobriam toda uma extensão de terra até onde a vista alcançava.

Antes de começar a travessia tinha que se encher de coragem e de certeza do que estava prestes a fazer, pois em seu intimo sabia que este poderia ser um caminho sem volta. Porém, nada havia que pudesse ser um sinal, estava só e teria que tomar, sozinho, a decisão de seguir ou não o caminho a sua frente.

Pensou na sua vida e em tudo o que construíra, e quanto mais refletia, mais percebia que tudo o que havia vivido nada mais era que um amontoado de coisas sem sentido, sem razão... Percebeu que durante toda a sua existência a única coisa que realmente havia ocupado sua razão e sentimentos era o que agora estava prestes a realizar. Por que durante todo o tempo apenas isso fazia sentido? Porque aquele campo de trigo tanto o fascinava? Porque sentira sempre essa vontade irresistível de saber o que havia do outro lado?

Nunca revelara a outros seu desejo, pois o teriam como tolo, já que todos se comportavam como se os trigais não existissem, ninguém o semeava, ninguém o colhia, apenas estava ali impassível e fascinante... Muitas vezes se sentia como os grãos de trigo não colhidos, inexistente para o mundo que o rodeava.
(continua...)

Da ordem ao caos

No início havia ordem, paz, simples e quase palpável. Tudo fluía num ritmo próprio... Como as marés que vem e vão renovando as águas tranqüilas de um mar calmo e límpido.
No início, como deveria ser, cada novo dia parecia um milagre, uma explosão de cores, sensações, aromas e sabores, estado inebriante da alma pura e fresca como a brisa da primavera que sopra embalando os ramos das árvores numa dança bela e hipnotizante distraindo a atenção das nuvens primeiro claras e leves como o algodão, depois um como uma leve sombra de chuva até chegarem a carregadas tempestades...

No início bastava fechar os olhos e a tempestade ia embora e o céu novamente tornava-se límpido e claro, estrelado como belas noites quentes de verão... Podia-se deitar e admirar as estrelas, as nebulosas, os cometas... Os risos eram constantes, os olhares profundos e significativos, as palavras eram de carinho, amor e dedicação eternos. O permanecer era mais intenso e constante que o ficar. Mas a calma e a tranqüilidade nos fez distrair e não cuidar do que já parecia cuidado por si só.

Os ventos começaram a soprar mais fortes fazendo rugas nas ondas no mar antes tranqüilo e acolhedor. As árvores balançando com mais força e vigor derramava seus frutos pelo chão, insistentes esses frutos buscavam um lugar onde pudessem florir e continuar a perpetuação da espécie, mas sem cuidado, sem água e luz e calor o fruto perece...

Os dias começaram a ficar mais longos e o sol cada vez menos tempo brilhava no céu, agora com mais nuvens a cada dia. As tempestades tornaram-se constantes e cada vez maiores assim como as ondas do mar agora revolto. Não havia mais céu estrelado, nem nuvens de algodão, nem cometas passando... Apenas uma grande e infinita noite escura sem estrelas.

De toda a ordem existente fez-se o caos! Um emaranhado sem fim de nuvens escuras, tempestades, raios e trovões tomando conta de tudo e arrastando tudo à sua frente, sem piedade, sem clemência... O ar falta, a respiração cada vez mais dificultada... Palavras surdas, olhares distantes, almas atormentadas pelas tempestades sem fim. Uma sombra que cresce ofuscando a percepção da verdade, da fé, da ordem... O início do fim.